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“Não é pessoal”: uma carta a líderes e liderados

Atenção ao paradoxo: tudo, mas tudo mesmo, é pessoal. E nada é.

Por Adriana Gattermayr*
Líderes e liderados, essa entidade, a empresa, é uma invenção nossa, que só serve para tirar a responsabilidade pelos nossos atos | <i>Crédito: Pexels
Líderes e liderados, essa entidade, a empresa, é uma invenção nossa, que só serve para tirar a responsabilidade pelos nossos atos | Crédito: Pexels
Caros executivos,
Qualquer um na sua posição tem pavor da expressão “é pessoal”. E com razão. No ambiente profissional, espera-se que o colaborador entenda que as decisões tomadas para o crescimento e desenvolvimento da empresa sejam meramente ferramentas e não devem gerar descontrole emocional do ego. Essa regra de etiqueta é bem conhecida de quem atua no ambiente corporativo. Mas alguém a segue cem por cento? Acredito que não, não é mesmo? Atenção ao paradoxo: tudo, mas tudo mesmo, é pessoal. E nada é.

Queridos colaboradores,
Tudo é pessoal porque a empresa não é um polvo desgovernado com tentáculos movido à vontade própria. A empresa não existe. A empresa são vocês. Vocês e seus líderes criam, juntos, um produto ou serviço, e não a “área de Novos Negócios”. No dia a dia, porém, nos parece que esse gigante zumbi é apenas uma máquina que trabalha para alimentar a si própria escravizando pessoas. Quantos colegas você já ouviu dizerem “vou sair do mundo corporativo, não aguento mais”?

Líderes e liderados,
Essa entidade, a empresa, é uma invenção nossa, que só serve para tirar a responsabilidade pelos nossos atos. Mas são pessoas que tomam decisões que impactam em pessoas. “Não queria fazer isso, mas a empresa precisa crescer”.  Sinto muito, é pessoal sim.
Agora, dizer que uma decisão é pessoal não significa dizer que ela gira em volta do seu umbigo, caro profissional. Se a empresa resolveu extinguir um departamento todo para cortar custos e demitiu você, é pessoal para você, sim, só que, para a empresa, é uma decisão estratégica e necessária. O que isto significa? Que a alta hierarquia desse grupo de pessoas decidiu eliminar algumas pessoas, pelo bem das demais.

Quando você, líder, diz que “não é pessoal”, espera-se que a politicagem, as traições, as invejas e outras questões mais baixas da natureza humana sejam deixadas de lado. Contudo, para ser sincera, nenhum ambiente corporativo está totalmente livre delas. Nesses casos, o discurso “não é pessoal” acaba sendo o da pior espécie. 

Nada deve ser pessoal, e remar nesse sentido pode parecer difícil, pois todos temos nossas afinidades. Por isso, o desafio é tornar as coisas pessoais, priorizando sempre o coletivo. Infelizmente, aqui no Brasil, é muito difícil as pessoas enxergarem o todo, pois somos ensinados desde pequenos a pensar em nós mesmos ao invés do contexto.

O que você, colaborador, deve fazer, é se ofender menos. Nem tudo no mundo foi feito para irritá-lo ou chateá-lo. Cresça e aceite que a vida às vezes tem situações difíceis e aprenda a lidar bem com elas. Esse é o profissional que todo o grupo de pessoas quer.
Entendendo essas verdades tão óbvias, não há mais espaço para um departamento de RH burocrático, não há mais espaço para uma área de gente. A área de gente é a empresa toda. A área que cuida de gente tem que ser a empresa toda. Há que se criar uma área de educação, que é hoje o coitadinho do treinamento e desenvolvimento que vive espremido entre um RH burocrático e uma presidência que corta “custos”.

Até que as faculdades e escolas de negócios incluam gestão de pessoas em todos os cursos, caberá aos líderes começar do zero e ensinar a seu grupo de pessoas como tratar uns aos outros para que as habilidades comportamentais facilitem a decolagem de uma empresa. Caberá também aos liderados investir no desenvolvimento de sua inteligência emocional para que se torne relevante o suficiente para entender e colaborar com o macro ambiente.

Aos líderes, deixo a dica de que uma empresa verdadeiramente pessoal é aquela que entende que trabalha com pessoas, que pessoas têm necessidades, têm outros compromissos, têm família, têm vida e ainda assim, olha só, querem trabalhar com vocês. É só vocês tornarem isso possível.

Não vou citar os tão falados escritórios coloridos e cheios de amenidades do Google, Facebook e afins. Eles servem ao seu público com muita eficiência (frequentemente aparecem na lista de empresas mais admiradas). Acontece que nem todo mundo tem esse perfil. Há profissionais que querem trabalhar de terno, que querem dizer que não têm tempo para nada.
São pessoas. Não há unanimidade.

Esqueça a pesquisa de clima. Levante de sua cadeira, converse com as pessoas, abra canais alternativos, se aproxime de seus braços e mantenha a cabeça de todos olhando para meta. Se eles se distraem com estresse e politicagem, volte o foco para o coletivo incessantemente. A era escravidão corporativa à empresa cavaleiro-sem-cabeça acabou. 

*Este artigo é de autoria de Adriana Gattermayr, CEO da Gattermayr Consulting.

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